O novo jornalismo e Chico Xavier
Por Roberto Monteiro Jr
 Nassif,
 Acho que vale a pena a publicação desta carta. Não leio Super  Interessante, mas conheço o Richard Simonetti e sei que é uma pessoa  séria. Além do que, o Chico Xavier… Bom, não precisamos nem comentar.
 Acho que vale a pena publicar essa carta no seu blog.
 Carta de Richard Simonetti apontando diversos erros na matéria  da Super Interessante sobre Chico Xavier.
Senhor Sérgio Gwercman
 Senhor Sérgio Gwercman
Diretor de redação da revista Super Interessante
 Sou assinante dessa revista há muitos anos. Sempre a encarei como  publicação séria, fonte de informações a oferecer subsídios para meu  trabalho como escritor espírita, autor de 49 livros publicados.
 Essa concepção caiu por terra ao ler, na edição de abril, infeliz  reportagem sobre Francisco Cândido Xavier, pretensiosa e tendenciosa,  objetivando, nas entrelinhas, denegrir e desvalorizar o trabalho do  grande médium.
 Isso pode ser constatado já na seção “Escuta”, com sua assinatura,  em que V.S. pretende distinguir respeito de reverência, como se  reverência não fosse o respeito profundo por alguém, em face de seus  méritos.
 Podemos e devemos reverenciar Chico Xavier, não por adesão de uma  fé cega, mas pela constatação racional, lúcida, lógica, de que estamos  diante de uma personalidade ímpar, que fez mais pelo bem da Humanidade  do que mil edições de Superinteressante, uma revista situada como  defensora do bom jornalismo, mas que fez aqui o que de pior existe na  mídia – a apreciação superficial e tendenciosa a respeito de alguém ou  de uma notícia, com todo respeito, como pretende seu editorial, como se  fosse possível conciliar o certo com o errado, o boato com a realidade, o  achincalhe com o respeito.
 Para reflexão da repórter Gisela Blanco e redatores dessa revista  que em momento algum aprofundaram o assunto e nem mesmo se deram ao  trabalho de ler os principais livros psicografados pelo médium, sempre  com abordagem superficial, pretendendo “explicar” o fenômeno Chico  Xavier, aqui vão alguns aspectos para sua reflexão e – quem sabe? – um  cuidado maior em futuras reportagens.
 De onde a repórter tirou essa bobagem de que “toda essa história  começou com as cartas dos mortos?”
 Se as eliminarmos em nada se perderá a grandeza de Chico Xavier. A  história começa bem antes disso, com a publicação, em 1932, do livro  Parnaso de Além-Túmulo, quando o médium tinha apenas 22 anos.
 A reportagem diz: “Ele dizia que não escolhia os espíritos a quem  atenderia, só via fantasmas e ouvia vozes. Mas parecia ser o escolhido  por celebridades do céu. Cruz e Souza, Olavo Bilac, Augusto dos Anjos e  Castro Alves lhe ditaram versos e prosa.”
 Afirmativa maliciosa, sugerindo o pastiche, a técnica de copiar  estilo literário. O repórter não se deu ao trabalho de observar que no  próprio Parnaso há, nas edições atuais, 58 poetas desencarnados, menos  conhecidos e até desconhecidos, como José Duro, Alfredo Nora, Alma Eros,  Amadeu, B.Lopes, Batista Cepelos, Luiz Pistarini, Valado Rosa… Poetas  do Brasil e de Portugal que se identificam pelo seu estilo, em poesias  personalíssimas enriquecidas por valores de espiritualidade.
 Não sabe ou preferiu omitir a repórter que Chico psicografou  poesias de centenas de poetas desencarnados, ao longo de seus 75 anos de  apostolado, na maior parte poetas provincianos, conhecidos apenas nas  cidades onde residiam no interior do Brasil. Pesquisadores constatam que  esses poemas não são “razoavelmente fiéis ao estilo dos autores”. São  totalmente fiéis.
 Não tem a mínima noção de que a técnica do pastiche, a imitação de  estilo literário, é extremamente difícil, quase impossível.  Pastichadores conseguem imitar uma página, uma poesia de alguém, jamais  toda uma obra ou as obras de centenas de autores.
 Afirma que Chico foi autodidata e leitor voraz durante toda a vida,  sempre insinuando o pastiche. Leitor voraz? Passava os dias lendo? Só  quem não conhece sua biografia pode falar uma bobagem dessa natureza, já  que Chico passava a maior parte de seu tempo atendendo pessoas,  psicografando, participando de reuniões e atendendo à atividade  profissional. Não conheço um único documentário, uma única foto  mostrando Chico lendo “vorazmente”. Ah! Sim! Para a repórter Chico  certamente escondia isso.
 Fala também que Chico teria 500 livros em sua biblioteca e que “a  lista inclui volumes de autores cujo espírito o teria procurado para  escrever suas obras póstumas, como Castro Alves e Humberto de Campos”.
 E as centenas de poetas e escritores que se manifestaram por seu  intermédio. Chico tinha livros deles? E de poetas que sequer publicaram  livros?
 Quanto a Humberto de Campos, cuja família tentou receber na justiça  os direitos autorais pelas obras psicografadas por Chico, o que seria  ótimo acontecer, o reconhecimento oficial da manifestação dos Espíritos,  esqueceu-se a repórter de informar que Agripino Grieco, o mais famoso  crítico literário de seu tempo, recebeu uma mensagem do escritor, de  quem era amigo. Reconheceu que o estilo era autenticamente de Humberto  de Campos, mas que o fato para ele não tinha explicação, já que, como  católico praticante, não admitia a possibilidade de manifestação dos  espíritos.
 Esqueceu ou ignora que Chico, médium psicógrafo mecânico, recebia  duas mensagens simultaneamente, com ambas as mãos sendo usadas por dois  espíritos. Desafio Superinteressante a encontrar um prestidigitador  capaz de fazer algo semelhante.
 Uma pérola de ignorância jornalística está na referência sobre  materialização de Espíritos: “seria necessário produzir um total de  energia duas vezes maior do que é hoje produzido pela hidroelétrica de  Itaipu por ano, segundo os cálculos feitos por especialistas exibidos  por reportagens sobre Chico nos anos 70.” Seria superinteressante a  repórter ler sobre as pesquisas de Alfred Russel Wallace, Oliver Joseph  Lodge, Lord Rayleigh, William James, William Crookes, Ernesto Bozzano,  Cesare Lombroso, Alexej Akzacof e muitos outros cientistas respeitáveis  que estudaram o fenômeno da materialização e o admitiram. Leia, também,  sobre quem eram esses cientistas, para constatar que não agiam  levianamente como está na revista.
 A repórter reporta-se às reuniões mediúnicas das quais Chico  participava como shows que o tornaram famoso e destila seu veneno. Cita o  sobrinho de Chico que, dizendo-se médium, confessou que era tudo de sua  cabeça, o mesmo acontecendo com o tio. Por que passar essa informação  falsa, se o próprio sobrinho de Chico, notoriamente perturbado e  alcoólatra, pediu desculpas pela sua mentira? Joga penas ao vento e  espera que o leitor as recolha? Omitiu também a informação de que ele  confessou que pessoas interessadas em denegrir o médium pagaram-lhe pela  acusação.
 Eram frequentes nas reuniões a ocorrência de fenômenos como a  aspersão de perfumes no ambiente, algo que, deveria saber a repórter,  costuma ocorrer com os médiuns de efeitos físicos. No entanto,  recusando-se a colher informações mais detalhadas sobre o assunto,  limitou-se a dizer que em 1971 um repórter da revista Realidade, José  Hamilton Ribeiro, denunciou que viu um dos assessores de Chico Xavier  levantar o paletó discretamente e borrifar perfume no ar. Sugere que  havia mistificação, aliás, uma tônica na reportagem. Por que não foram  consultadas outras pessoas, inclusive centenas que tiveram seus lenços  inexplicavelmente encharcados de perfume ou a água que levavam para  magnetizar, a exalar também um olor suave e desconhecido que perdurava  por muitos dias?
 Na questão das cartas, milhares e milhares de cartas de Espíritos  que se comunicavam com os familiares, sugere a repórter que assessores  de Chico conversavam com as pessoas, anotando informações para dar-lhes  autenticidade. Lamentável mentira. E ainda que isso acontecesse, Chico  precisaria ser um prodígio para ler rapidamente as informações e  inseri-las no contexto de cada mensagem, de cada espírito, mistificando  sempre.
 E as mensagens dirigidas a pessoas ausentes? E os recados aos  presentes? Não eram só mensagens. Eram incontáveis recados. A pessoa  aproximava-se de Chico e ele, sem conhecer nada de sua vida, transmitia  recados de familiares desencarnados, na condição de um ser  interexistente, que vivia simultaneamente a vida física e a espiritual,  em contato permanente com os Espíritos.
 Lembro o caso de um homem inconformado com a morte de um filho. Ia  toda noite deitar-se na sepultura do rapaz, querendo “ficar com ele”.  Não contava a ninguém, nem mesmo aos familiares. Em Uberaba recebeu  mensagem do filho pedindo-lhe que não fizesse isso, porquanto ele não  estava lá.
 Durante muitos anos Chico psicografou receituário mediúnico de  homeopatia. Perto de 700 receitas numa noite. Ficava horas  psicografando. E os medicamentos correspondiam à natureza do mal dos  pacientes, sem que o médium deles tivesse o mínimo conhecimento. Na  década de 70 tive uma uveíte no olho esquerdo. Compareci à reunião de  receituário. Escrevi meu nome e idade numa folha de papel. Não conversei  com ninguém. Após a reunião recebi a indicação de dois medicamentos.  Tornando a Bauru, onde resido, verifiquei num livro de homeopatia que o  dois medicamentos diziam respeito ao meu mal. Curaram-me.
 Concebesse a repórter que, como dizia Shakespeare, há mais coisas  entre a Terra e o Céu do que concebe nossa vã sabedoria, e não se  atreveria a escrever sobre assuntos que desconhece, com o atrevimento da  ignorância.
 Outras “pérolas” da reportagem:
 Oferece “explicações” lamentáveis para o fenômeno Chico Xavier.
 Psicose, confundindo mediunidade com anormalidade.
 Epilepsia, descarga elétrica que “poderia causar alheamento,  sensação de ausência, automatismo psicomotor”, segundo a opinião de um  médico. Descreve algo inerente ao processo mediúnico, que não tem nada a  ver com desajuste mental, ou imagina-se que o contato com o Espírito  comunicante não imponha uma alteração nos circuitos cerebrais, até para  que ocorra a manifestação? E porventura o médico consultado sabe de  algum paciente que produza textos mediúnicos durante a crise epilética?
 Criptomnésia, memórias falsas, lembranças escondidas no  subconsciente do médium, ao ouvir informações sobre o morto.  Inconscientemente ele “arranjaria” essas informações para forjar a  “manifestação”.
 Telepatia. Aqui o médium captaria informações da cabeça dos  consulentes e as fantasiaria como manifestação do morto. Como dizia  Carlos Imabassahy, grande escritor espírita, “inconsciente velhaco”,  porquanto sempre sugere que é um morto quem se manifesta, não ele  próprio.
 Informa a repórter que “acuado pelas críticas na Pedro Leopoldo de  15 mil habitantes, Chico resolveu fazer as malas e partir para Uberaba,  um polo do Espiritismo onde contaria com um apoio de amigos”.
 Mentira. Ele deixou Pedro Leopoldo, onde tinha muitos amigos, não  por estar “acuado”, mas simplesmente seguindo uma orientação do Mundo  Espiritual, em face de tarefas que desenvolveria em Uberaba que, então  sim, com sua presença transformou-se em “polo do Espiritismo”.
 Na famoso pinga-fogo a que Chico compareceu, em 1971, na TV Tupi,  um marco na história das entrevistas televisivas, com uma quase  totalidade de audiência, diz a repórter que Chico foi “bombardeado por  perguntas. Mas se safou.” Bombardeado? Safou-se? O que foi essa  entrevista, um libelo acusatório contra um mistificador? Se a repórter  se desse ao trabalho de ver a entrevista toda, o que lhe faria muito  bem, verificaria que o clima foi de cordialidade, de elevada  espiritualidade, e que em nenhum momento os entrevistadores  “bombardearam” Chico. E em nenhum momento ele deixou de responder as  perguntas com a sobriedade e lisura de quem não está ali para safar-se,  mas para ensinar algo de Espiritismo.
 Falando da indústria (?) Chico Xavier, há um box sobre “Dieta do  Chico Xavier”, que jamais seria veiculada por Chico. Usaram seu nome.  Por que incluí-la nas inverdades sobre o médium, simplesmente para  denegrir sua imagem, aqui sugerindo que seria ingênuo a ponto de  conceber semelhante bobagem? Se eu divulgar via internet que  Superinteressante recomenda o uso de cocô de galinha para deter a queda  de cabelos, seria razoável que alguma revista concorrente citasse essa  tolice, mencionando a suposta autoria, sem verificação prévia?
 Falando dos 200 livros biográficos sobre Chico Xavier, a repórter  escreve: “Tem até um de piadas, Rindo e Refletindo com Chico Xavier”.  Certamente não leu o livro, porquanto não conhece nem o autor, eu mesmo,  Richard Simonetti, nem sabe que não se trata de um livro de piadas, mas  um livro de reflexão em torno de ensinamentos bem-humorados do médium.
 Não fosse algo tão lamentável, tão séria essa agressão contra a  figura respeitável e venerável de Chico Xavier, eu diria que essa  reportagem, ela sim, senhor redator, foi uma piada de péssimo gosto!
 Doravante porei “de molho” as informações dessa revista, sem o  crédito que lhe concedia.
 A repórter Gisela Branco esteve em Pedro Leopoldo e Uberaba com o  propósito de situar Chico Xavier como figura mitológica. É uma pena! Não  teve a sensibilidade nem o discernimento para descobrir o médium Chico  Xavier, cuja contribuição em favor do progresso e bem estar dos homens  foi tão marcante que, a exemplo do que disse Einstein sobre Mahatma  Gandhi, “as gerações futuras terão dificuldade para conceber que um  homem assim, em carne e osso, transitou pela Terra.”
 E deveria saber que não vemos Chico Xavier como um mártir, conforme  sugere. Não morreu pelo Espiritismo. Viveu como espírita. E se algo se  aproxima de um martírio em seu apostolado, certamente foi o de suportar  tolices e aleivosidades como aquelas presentes na citada reportagem.
 Finalizando, um ditado Zen para reflexão dos redatores da Super:
 O dedo aponta a lua.
 O sábio olha a lua.
 O tolo olha o dedo.
 Richard Simonetti
Bauru, 3 de abril de 2010.     
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