Sebastião Lasneau
Mestre! Falou alguém nesse momento:
“Qual é de toda a Lei o maior mandamento?”
Jesus, erguendo ao Céu o olhar calmo e sereno,
Depois, olhando ao ser humílimo e pequeno
Que buscava entender, do Pai, a eterna Lei,
Assim lhe responde, quase se falasse a esmo:
“Ama o Senhor teu Deus de todo o entendimento
E ao próximo, tal qual amas tua a ti mesmo!
Quem isto praticar em alma e sentimento,
Em si concentrará toda a Lei e os profetas
E ganhará, no Céu, as glórias mais completas!”
Por instantes, calou-se o filho de Maria.
Ressoava ainda no espaço a dúlcida harmonia
Da sua voz serena... Alguém lhe perguntou:
“Meu próximo quem é, Senhor? Dizei-mo, pois estou
Desejoso de o amar com esse grande amor
Que dedico a mim mesmo e a Deus Nosso Senhor!”
Jesus ergueu, de novo, ao Céu o doce olhar
E, de novo, o baixando entrou a predicar:
“Um homem, certa vez, à noite, partiu só
E, de Jerusalém, seguia a Jericó,
Quando pelos ladrões foi ferido e espoliado
E, na estrada, a morrer, jazia abandonado.
Eis que passa um judeu sacerdote, um irmão,
E que prossegue além, sem dó nem compaixão.
Passa um levita, o qual também avança!
Nem um olhar sequer ao ferido... A esperança
Nele aos poucos se esvai! E morrerá por certo.
A cidade tão longe e a morte já tão perto!...
Eis que passa, porém, um filho da Samária,
Um da raça odiada... um mau, talvez um pária.
Entretanto esse mau e vil samaritano
Tinha, a pulsar no peito, um coração humano,
Um coração que sente a grandeza do Eterno
E por isso se faz solícito e fraterno.
E as chagas lhe pensando, o põe sobre a alimaria.
Conduzindo o judeu, o filho da Samária.
Hospedou-o depois em meio da viagem
Pagando a sua estada, em perfeita estalagem,
Na qual recomendou tratassem-no a contento
Pelo que, ao voltar, faria o pagamento.
“A teu ver, meu amigo, o próximo quem é?”
Docemente inquiriu Jesus de Nazaré.
“Pelo gesto fraterno à luz do amor humano
O próximo, Senhor, é o bom samaritano!”
E concluiu Jesus, que não falava a esmo:
“Dizeis bem, meu irmão. Pois vai e faze o mesmo.”
Eis que, ali, revelou-se o mais sublime arcano:
O reino do Senhor em dúlcida harmonia
É para quem, seguindo o Filho de Maria
Faça o mesmo que fez o bom samaritano!
07/09/1950
(Poema do arquivo de Daisy Varandas Lima, ex-integrante da Mocidade Espírita Maria João de Deus, em Belo Horizonte)
Nota – Camões, em “Os Lusíadas”(VII, 39), rima Samária com vária e contrária. Lasneau, a exemplo do vate lusitano, adota a prosódia grega (Samáreia) e não a latina (Samaria) com “i” longo.
Extraído do jornal O Espirita Mineiro, de outubro/dezembro de 2009, página 05
Meu amigo amei o texto, a forma poética em que trouxe uma das passagens mais belas do Mestre. Obrigada pela colaboração. bjos e ótimo final de semana.
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