quinta-feira, 18 de março de 2010

QUEM É O PRÓXIMO?

Sebastião Lasneau



O bom samaritano

Mestre! Falou alguém nesse momento:

“Qual é de toda a Lei o maior mandamento?”


Jesus, erguendo ao Céu o olhar calmo e sereno,

Depois, olhando ao ser humílimo e pequeno

Que buscava entender, do Pai, a eterna Lei,

Assim lhe responde, quase se falasse a esmo:

“Ama o Senhor teu Deus de todo o entendimento

E ao próximo, tal qual amas tua a ti mesmo!

Quem isto praticar em alma e sentimento,

Em si concentrará toda a Lei e os profetas

E ganhará, no Céu, as glórias mais completas!”


Por instantes, calou-se o filho de Maria.

Ressoava ainda no espaço a dúlcida harmonia

Da sua voz serena... Alguém lhe perguntou:

“Meu próximo quem é, Senhor? Dizei-mo, pois estou

Desejoso de o amar com esse grande amor

Que dedico a mim mesmo e a Deus Nosso Senhor!”


Jesus ergueu, de novo, ao Céu o doce olhar

E, de novo, o baixando entrou a predicar:

“Um homem, certa vez, à noite, partiu só

E, de Jerusalém, seguia a Jericó,

Quando pelos ladrões foi ferido e espoliado

E, na estrada, a morrer, jazia abandonado.


Eis que passa um judeu sacerdote, um irmão,

E que prossegue além, sem dó nem compaixão.

Passa um levita, o qual também avança!

Nem um olhar sequer ao ferido... A esperança

Nele aos poucos se esvai! E morrerá por certo.

A cidade tão longe e a morte já tão perto!...


Eis que passa, porém, um filho da Samária,

Um da raça odiada... um mau, talvez um pária.

Entretanto esse mau e vil samaritano

Tinha, a pulsar no peito, um coração humano,

Um coração que sente a grandeza do Eterno

E por isso se faz solícito e fraterno.

E as chagas lhe pensando, o põe sobre a alimaria.

Conduzindo o judeu, o filho da Samária.

Hospedou-o depois em meio da viagem

Pagando a sua estada, em perfeita estalagem,

Na qual recomendou tratassem-no a contento

Pelo que, ao voltar, faria o pagamento.


“A teu ver, meu amigo, o próximo quem é?”

Docemente inquiriu Jesus de Nazaré.


“Pelo gesto fraterno à luz do amor humano

O próximo, Senhor, é o bom samaritano!”


E concluiu Jesus, que não falava a esmo:

“Dizeis bem, meu irmão. Pois vai e faze o mesmo.”


Eis que, ali, revelou-se o mais sublime arcano:

O reino do Senhor em dúlcida harmonia

É para quem, seguindo o Filho de Maria

Faça o mesmo que fez o bom samaritano!

07/09/1950

(Poema do arquivo de Daisy Varandas Lima, ex-integrante da Mocidade Espírita Maria João de Deus, em Belo Horizonte)

Nota – Camões, em “Os Lusíadas”(VII, 39), rima Samária com vária e contrária. Lasneau, a exemplo do vate lusitano, adota a prosódia grega (Samáreia) e não a latina (Samaria) com “i” longo.

Extraído do jornal O Espirita Mineiro, de outubro/dezembro de 2009, página 05

Um comentário:

  1. Meu amigo amei o texto, a forma poética em que trouxe uma das passagens mais belas do Mestre. Obrigada pela colaboração. bjos e ótimo final de semana.

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